As tecnologias verdes estão ganhando importância como alavanca de crescimento da economia global. Elas já movimentam um mercado de € 200 bilhões em todo o mundo. Entre os anos de 2008 e 2011, esse mercado avançou a uma taxa anual de 10%. Para efeito de comparação, no mesmo período a economia global cresceu abaixo de 3% ao ano. Enquanto isso, no Brasil, as tecnologias de produção mais eficientes e de menor impacto ambiental representam 0,8% do PIB e movimentam € 8 bilhões por ano. Impulsionado pelo setor de biocombustíveis e energias renováveis, o Brasil é o 4º país no ranking de vendas de tecnologias verdes em relação ao PIB. Na Dinamarca, país que lidera o ranking, o mercado "verde" já representa 3,1% do PIB, segundo estudo da WWF em parceria com a consultoria Roland Berger.
Apesar de estar bem posicionado, o Brasil apresenta crescimento muito inferior em relação ao mercado global e ao seu potencial. Enquanto na China, nos Estados Unidos e na Alemanha o mercado de tecnologias verdes cresce mais de € 16 bilhões ao ano desde 2008, o mercado brasileiro cresce na casa dos € 500 milhões. A situação se repete quando analisamos o crescimento relativo. China e Alemanha tiveram um incremento das vendas de tecnologias verdes em relação ao PIB de 1,2 e 0,3 ponto percentual, respectivamente, entre 2008 e 2011. Em contrapartida, o Brasil não apresentou crescimento e, na verdade, registrou uma leve desaceleração.
Se o País conta com uma série de vantagens comparativas, como um diversificado potencial bioenergético, ventos e radiação solar abundante, o que justifica a reduzida representatividade do Brasil nessa área? Muitos empresários alegam que a inexistência de um arcabouço institucional e regulatório, a baixa competitividade das tecnologias verdes em relação às tradicionais e a dificuldade de acesso a financiamento explicam esse quadro.
Tais entraves, porém, não são obstáculos intransponíveis. O País já apresenta um arcabouço institucional e contexto de mercado favorável para as tecnologias verdes, em maior ou menor grau, dependendo da indústriaem questão. A PolíticaNacional de Resíduos Sólidos demanda a estruturação de uma cadeia produtiva; a micro-geração distribuída por consumidores de energia a partir das fontes solar e eólica já foi regulamentada pela Agência Nacional de Energia Elétrica; e o cenário de oferta restrita de energia e água são incentivos inequívocos para projetos de eco-eficiência nas indústrias.
Outro exemplo marcante vem da área de transporte. Montadoras justificam que a baixa penetração de veículos elétricos no País é fruto da carga tributária que incide sobre esses veículos, o que faz com que o valor aqui no Brasil seja o dobro do valor do bem no porto de origem. Outro argumento é a existência de uma indústria nacional de biocombustíveis como o etanol. Entretanto, a existência de uma matriz elétrica limpa, programas como o Inovar Auto e o interesse e capital para inovação das "utilities" de energia formam um ambiente de negócios atrativo para a inovação. Somam-se os ganhos econômicos do lado do consumidor e do País. Com eficiência energética cinco vezes maior que os veículos convencionais, o consumidor economiza na hora de encher o tanque. Já o País ganha com a redução das emissões de poluentes e da dependência de combustíveis fósseis. O entrave, neste caso, parece ser a ausência de um modelo de negócio.
Apostando no potencial das tecnologias verdes, várias organizações empresariais têm explorado a possibilidade de novos modelos de negócio. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) desenvolveu um modelo para destravar projetos de eficiência energética. Já o Instituto Ethos lançou o projeto "Negócios Sustentáveis: transformando ideias em modelos inovadores", que conecta empresas com especialistas em design, branding, modelagem de negócios e finanças para desenvolvimento de um modelo de negócio sustentável com a mesma solidez dos negócios tradicionais. O objetivo é que tal modelo funcione nos padrões atuais de mercado e sem a necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias ou alterações do marco legal. A iniciativa baseia-se na premissa de que o desenvolvimento de modelos de negócios pioneiros e de sucesso incentivam a transformação da regulação e dos mecanismos de mercado.
Nesse primeiro ano, o segmento de gestão de energia foi apontado como o mais atrativo, seja pela presença de um arcabouço regulatório favorável, como pela existência de linhas de financiamento com taxas subsidiadas. Esses fatores, somados às sinergias das empresas participantes, possibilitam que um negócio sustentável seja tão ou mais competitivo que os modelos tradicionais. Entre as oportunidades avaliadas destacam-se a microgeração distribuída solar, eficiência térmica na indústria e geração de energia por meio de resíduos sólidos urbanos. Somente a microgeração e geração distribuída possuem potencial de atingir 67 milhões de consumidores, atraindo investimentos de R$ 48,9 bilhões até 2030, segundo estudo da consultoria DNV Kema.
O desenvolvimento de um negócio sustentável, competitivo e escalável demonstra a empresários, Governo e sociedade civil que a transição para uma economia verde pode ser iniciada dentro dos padrões atuais de mercado. Por meio de iniciativas pioneiras cria-se não apenas uma nova via de desenvolvimento para a indústria nacional, mas também um instrumento que proporciona vantagem competitiva no momento em que houver uma transformação institucional favorável.
Fonte: Valor Econômico
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